sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

25










De manha trocamos presentes. A tarde foi passada na praia da Areia Branca. Faz parte da cultura timorense, passar o dia de natal na praia, e hoje não foi excepção. Nunca tínhamos visto as praias mais próximas do nosso bairro, tão cheias!...A invasão começa cedo, assim que o dia começa. O mar enche-se de miúdos despidos e de garrafas de plástico, que servem de bóias. Eu consegui arranjar uma sombra, uma cadeira e um tempo para descansar.
O final da tarde passou rápido, por baixo de chuva. Estivemos a passear pelo bairro, a entregar presentes e a avisar as crianças que amanha de manha, vamos todos para a praia de anguna. Também fomos dar um beijinho aos padres Jesuítas, no China Rate, e as irmãs Escravas, em Bebonuk.
O jantar foram as espetadas paquistanesas e katupa (arroz cozido em agua de coco). O Meu Bacalhau Com Natas fica para amanha.
Hoje, teria ficado sem forças.




(Desenho: Matilde e Titi)

24













Véspera de Natal. Foi definitivamente um dia diferente, cheio de imensa coisa. Começou com uma surpresa para a Matilde e o Duarte, preparada por mim e pela Diana. De olhos vendados e dentro de um jipe enfeitado, levamo-los para a praia. Connosco, uma aparelhagem, o CD de Natal da Diana Krall (obrigada Mana Querida), um kit de pilhas, um cesto com scones acabados de fazer, compota importada, café de Timor (o melhor do mundo), sumo, iogurtes e salada de fruta.
O resto foi fácil...deixamos o jovem casal na praia paradisíaca de Komoro, não sem antes dar um mergulho no mar delicioso de Bebonuk. O caminho de volta foi longo, e incluiu varias etapas: atravessar a ribeira de Bebonuk (onde varias vezes tivemos que arrancar os chinelos da lama), percorrer a estrada principal a pé (no caminho paramos num Kios para comprar agua...já nos habituamos a encontrar no meio de sítios que cheiram a quase nada, pessoas que nos conhecem, que já viveram em Portugal, que nos adoram!...o Sr.. Adelino viveu 3 anos nos Açores e um mes no Porto), apanhar boleia de um rapaz timorense ate a marginal e finalmente um táxi ate casa. A tarde passamo-la a cozinhar as sobremesas para a festa da noite. Quase não tivemos tempo para jantar, pq a missa foi as 20h. Foi uma missa muito bonita, acompanhada pelo coro da Mana Quita. Foi em tétum, um pouco difícil de seguir, mas ia pensando naquilo que estava longe, de que sinto as vezes falta. De volta a casa, começou a nossa festa...que durou ate tarde. Aqui, sempre que nos convidam para dançar, é quase obrigatório aceitar, senão podemos ofender quem convida. A verdade é que eu adoro. Mas de par em par, tenho que (re) acertar o passo, (re) aprender a dança, (re) petir o texto hoje decorado, "hau la hatene dançar"(eu nao sei dançar). Vale de pouco, porque todos acham que eu ate danço. Eu só tento, mas ninguém precisa de saber a verdade.
A festa terminou tarde. E o fim da noite anunciou-se quando me deitei na cama, a conversa com a minha prima e com a minha irmã.








quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

FELIZ FELIZ NATAL







Queridos amigos:
Enviei um email a todos, mas como a simples e rapida conexao á internet nao é um forte na minha casita, deixo aqui esta msg.
Feliz Natal!!!!...Um gd gd beijinho de Feliz Natal**

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

SARA



PARABENS pelo teu dia, amiga linda!!

domingo, 7 de dezembro de 2008

CARIMBOS A PRETO E BRANCO












Hoje trabalhei a Zexi, a Di, a Titi e a Dulcita.
Trabalhei, porque não fotografei apenas.
Desenhei as quatro.
Registei, gravei, revelei-as no meu Caderno de Capa Preta, com quatro lápis diferentes.
Agora, também são carimbos a preto e branco..e poderei repeti-las onde entender.

O MEU PAI É MELHOR DO QUE O TEU


Porque canta, porque fala muito, mas conversa bem.
Porque vive à seria, e ai de quem se atravesse no caminho.
Porque trabalha e constrói o que imagina, literalmente, com as próprias mãos.
Porque adora a terra e a terra o adora a ele.
Porque desconfio que quase nunca se cansa.
Porque faz acontecer e não se encosta a ninguém.
E é por tudo isto que tenho a certeza de que um pai como o MEU, mais ninguém tem!!!

PARABÉNS pelo dia de hoje!!
Já agora, e de uma forma nada interesseira, aproveito para dizer que para o conhecerem,
só precisam de fazer uma reserva num dos mais bonitos refúgios do Douro:
www.quintadasheredias.com

E ainda recebem um bónus extra: tb conhecem a minha mãe, uma verdadeira força da Natureza!...:)
(mas isto é só se copiarem este endereço e o reenviarem para 14 dos vossos contactos, ate à meia noite do dia 7 de Dezembro..)
Mil beijinhos aos dois**

domingo, 30 de novembro de 2008

QUERIDOS ARQUITECTOS:


A Arquitectura que espere.


CAIXA










O tema da peça revela-se de imediato no titulo: A Caixa, e a Carolina explica:
" Caixa representa genericamente a grande caixa universal que é o mundo com as suas pequenas e múltiplas caixas: os países, os lugares dentro dos países, as pessoas dentro dos lugares. Esta caixa também é o corpo, a cabeça e o coração. Uma caixa que pensa, sente, guarda, interioriza, memoriza, projecta futuro, ilude-se, imagina e evolui. Uma caixa que se transmuta. Uma caixa que, simultaneamente individualiza e socializa. Uma caixa que abre lentamente, para se (se) comunicar."

O premio Nobel da paz, o Presidente Ramos-Horta , faz o discurso de abertura.
E começa a peça. Uma historia encenada e dirigida pela Carolina Rodrigues, uma actriz portuguesa que veio passar um mes a Timor, com o objectivo de desenvolver um workshop de teatro com as crianças e os jovens do CJPAV (Centro Juvenil Padre António Vieira). O Instituto Camões, em parceria com o CJPAV financiam e promovem. O sucesso do projecto garante o regresso da Carolina em Janeiro, pelo menos por mais seis meses.
A Historia é contada por treze timorenses. Os ensaios encheram o espaço criança do Centro durante três semanas e foram sérios, atentos e expectantes.
No dia 28, o actor principal, o Gui, entra em palco com uma pequena Caixa de madeira nas mãos. Ate ao final, permanece assim. Os outros actores misturam-se no palco, em sons , ritmos e gestos que representam, dramatizam, questionam e aproximam. Mas só um consegue, no final, comunicar com o Dono da Caixa. Porque admitiu ter também uma Caixa, ainda que invisível.
A peça fala de muita coisa e de quase nada, deixa margem à descoberta. Não esgota sentidos ou significados.
E cada um encontrou nela, aquilo que quis.

sábado, 29 de novembro de 2008

28 DE NOVEMBRO

Hoje celebra-se em Dili, o dia da proclamação da Independência, em 1975, que antecedeu a invasão indonésia. Houve festa no Palacio do Governador e ouviu-se fogo de artificio, em toda a cidade. Acho que as vezes o povo nao sabe se neste dia ha-de rir ou chorar...mas ja se habituou à confusao de sentimentos.
Aqui, a alegria e a tristeza andam sempre de maos dadas.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

MAGIA QUE NAO SE VE



Sempre que percorro as ruas esburacadas e poeirentas do nosso bairro, a caminho do centro ou da escola, mil imagens de alegria entram no meu coração. não é possível descrever o que somos capazes de sentir quando estas crianças, que brincam na rua, sorriem. A alegria delas é genuína, transparente e não parece transportar nunca sinais de pobreza interior. A miséria exterior, aquela que se avalia, critica, que facilmente transborda o limite do visível e que serviu de noticia no "Publico" desta semana, argumentada, estruturada e definida, essa vê-se por todo o lado, a toda a hora e não é falsa nem finge existir. Transpira-se em Dili, em Baucau, em Maubara, em Dare, em Bazartete e nos amplos "entres". Mistura-se com o suor que o sol insiste arrancar do nosso corpo e constitui, sim, parte da realidade timorense. Não desminto.
Sim, é verdade que é impossível conduzir o jipe numa linha recta, ainda que a estrada seja também ela recta, devido aos buracos, marcas e cicatrizes deixadas pelas lagartas dos tanques.
Sim, é verdade que a cidade se confunde com o chão, se as casas que se levantam hoje são feitas de pedaços de chapa que enferruja e madeira que apodrece.
Sim, é verdade que o passado é recente e que muito trabalho esta ainda por fazer, senão quase todo, que os muitos edifícios brancos das cidades, são apenas restos de contentores de vidas queimadas ou vazias, como se a guerra não quisesse abandonar nunca este povo.

Mas encontra-se magia em cada pequeno detalhe, em cada flor no caminho (que agora é símbolo de vida), em cada uniforme de escola ou colégio lavado com o esforço de mães empenhadas e atentas, em cada vendedor de rua carregado de sonhos e esperança, em cada sorriso, gesto ou palavra de qualquer timorense que passa por nos, em cada senhora, que caminha com uma dignidade rara de se encontrar, em cada velho de cabelo grisalho que, apenas com o olhar, promete lições sabias e enriquecedoras, em cada pedaço desta terra! Encontra-se esperança na voz das crianças, na ambição insegura mas corajosa dos jovens.
Confesso que comecei sendo mera figurante deste cenário, e acabo por me ir projectando nele. Descubro todos os dias, alguma coisa em mim, por viver no meio de toda esta simplicidade que se diz provisória, mas que insiste em ficar para sempre. É impossível não testarmos a nossa resistência física e psicológica todos os dias.
No meio desta "...versão apenas ajardinada da favela...", descrita pelo jornalista Pedro Rosa Mendes, sinto-me mais perto de mim. Que importa se quem olha de fora, não vê. Esta fora, e não vê!
Vou descobrindo quem sou, no meio desta gente tão querida, que sofreu tanto e vive de forma tão delicada e agradecida. E aprendo a viver como eles, sem criticar ou julgar, mas ajudando com o que tenho e o que sou. E dando tempo acima de tudo. Como se espera que a esperança se reconstrua em 9 anos? Como se apagam todas as tentativas de reconstrução que foram existindo entretanto, para logo se seguida serem destruídas? Como se espera que o povo actue, se não tem dois anos seguidos de paz, desde a época da invasão ate agora? E como é possível descrever a situação de um povo como ESTE povo, se não se fala dele, se se da azo a que comentários absurdos, sem consequência ou sequer testemunho vivido, sejam feitos contra ele?

Estou indignada.
Deixo-vos uma pequena parte do livro-reportagem que estou a ler, da jornalista brasileira Rosely Forganes, essa sim, verdadeira correspondente de guerra, que esteve em Timor em 1999, durante o massacre que seguiu o plebiscito.

" O primeiro barco marca uma nova etapa no repatriamento dos refugiados, 1500 pessoas vão chegar hoje, vindas do Kupang, no Timor Oeste, onde fica a maior parte dos campos controlados pelas milícias. O cais esta vazio. só os militares e os jornalistas tem acesso ao local. O dia ainda esta amanhecendo e já avistamos o barco, um navio enorme, com vários andares. Centenas de refugiados estão no convés, cantando a musica que foi uma espécie de hino da resistência nestes anos todos: "Oh eh eh eh, Oh eh eh ah..." marca o refrão. Eles dão vivas ao Timor Lorosae, à resistência, à reconciliacao, à paz, à independência, ao retorno a casa. E voltam a cantar a mesma musica.
Nesse momento, um soldado australiano sai do hangar e avança sozinho ate a ponta do cais, deserto a essa altura. De frente para o barco, que esta quase chegando. Na luz cor-de-rosa da manha, uma dessas auroras que só o céu de Timor é capaz de colorir, ele empunha a gaita de fole e começa a tocar a Valsa do Adeus. É algo totalmente irreal. Os refugiados no barco param de cantar, militares, jornalistas, todos parecem pregados no chão e imóveis enquanto a melodia ecoa na manha transparente. É como se o tempo tivesse parado. Quando a musica acaba, todos levam alguns segundos para sair da imobilidade. O cais e o barco irrompem em aplausos.
Quem diria, mesmo uma guerra tem momentos de absoluta magia!!"

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

VISITA DE ENFERMEIRO


No dia 29 de Outubro, fomos com o irmao Ornellas, fazer uma visita aos postos na montanha. O Irmao Ornellas ja tem alguma idade, é açoreano e enfermeiro em Timor há muitos anos. Foi 'companheiro de guerra' do Pe Joao Felgueiras e Pe Jose Martins, que sao dois padres jesuitas portugueses, de entre os poucos sobreviventes da guerra. As estradas, as curvas, os buracos que sao precisos vencer, nas nossas idas à montanha, fazem-nos tremer dentro do jipe, mas nada disfarça a nossa concentraçao atenta, enquanto o Irmao fala. E fala de muita coisa, de uma forma simples e serena, porque a pressa nao acrescenta muito mais. Eu queria poder ouvir tudo e transformar-me as vezes em gravador fiel, mas recorro à maquina fotografica, opçao video, para conservar o essencial. A memoria nao perdoa. Espero que o mais importante se salve!
Conhecemos a Vitoria, a enfermeira de 26 anos, com curso tirado em Dili. Ela ja trabalha com o Irmao ha 8 anos. Uma pequena joia no meio da montanha densa e humida. Um sopro leve de esperanca, de futuro, de continuidade. Tem dois filhos e diz que nao quer mais porque a vida esta dificil: uma bafurada de ensinada lucidez. Tem uma casa nova, construida com o proprio trabalho. Esta a espera da cozinha e de uma casa de banho, prometidas pelo Irmao portugues.
As nossas viagens à montanha carregam sempre, na parte de tras da carrinha, mil criancas que vamos descobrindo pelo caminho. Elas tambem nos descobrem, porque acenam, pedem boleia e confiam. De uniforme vestido e gelado na mao, uns palitos de cor embrulhados num saco transparente, sao a imagem nitida da presente simplicidade, em busca de um futuro melhor. As crianças sao tantas...e a imagem é linda de mais!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

...E

E...
..tenho saudades vossas...do frio, tenho saudades do frio, de andar de cachecol e luvas, de beber chocolate quente, de ir ao cinema, de comer pipocas, da minha irma, de andar de metro, de ir ao café à noite, de ver o nosso mar, de dançar dançar dançar, dos meus amigos...

Mas é mesmo bom sentir saudades!...e sentir que aqui nao tenho tudo o que quero ou quando quero.
PLUS: Aqui há borboletas em todo o lado...e sempre!!

**

DIAS NORMAIS

Ola! Escrevo so para dizer que vou começar com o curso de portugues na proxima semana. As aulas de catequese começam esta sexta feira. E vou ajudar o Pe Felgueiras a organizar o arquivo de fotografias dos 25 anos de guerra em Timor. O arquivo é um verdadeiro tesouro arrumado em caixotes, é dos poucos testemunhos da guerra, dos massacres, da esperança, da paz e da fé deste povo. Sou uma previligiada por poder participar neste trabalho! O calor aperta, é cada vez maior, agora que a época das chuvas começa...e chove dentro da nossa cozinha!! :)...Se fosse tudo bom, nao estaria em missao!...Continuo bem :).

Mil beijinhos*

12 DE NOVEMBRO

Esta semana celebrou-se o 12 de Setembro, em Dili. Neste dia, em 1991 aconteceu o massacre de Sta Cruz. As tropas indonesias mataram mais de 200 jovens timorenses, no cemiterio de Santa Cruz, perto de Balide, o bairro onde vivemos. Estes pequenos grandes meninos sao considerados herois, porque foi gracas a esta tragica batalha, tao desiquilibrada e tristemente necessaria, que se conseguiram enviar para o mundo, filmes e fotografias de falsas harmonias e de uma paz que nao existia. Um trabalho heroico foi seguido de imediato. Alguem levou o material fotografico, em seguranca, para fora de Timor, sem que caisse nas maos dos indonesios. Muitos vao-nos contando quem o fez, como o fez. O facto é que chegou, e é graças a mais um heroi que Timor conseguiu a tao desejada independencia.
Agora, este dia é apenas recordado e celebrado em Dili, mas muitos fantasmas pairam ainda no ar.
A nossa querida Tia Amada esteve la nesse dia e fez parte do grupo de vozes que se ouvem por detras dos gritos e dos tiros, a rezar em portugues. Algumas senhoras e criancas rezavam dentro das duas capelas do cemiterio de Sta Cruz. E faziam-no com imensa voz e fé, sem dar espaço para intervalos bruscos ou investidas fatais. Por isso mesmo, e por se terem tornado sobreviventes do massacre, receberam das maos do povo timorense, uma medalha de coragem. A tia Amada mostrou-me a dela, radiante por se recordarem dela desta forma, e por sentir que agora carrega um pequeno tesouro. Acho que nunca chegarei a saber o que ela realmente sentiu naquele dia, quando as tropas finalmente chegaram ao interior da capela e se prepararam para disparar sobre todas as pessoas que la estavam dentro. Quando estavam prestes a faze-lo, entrou o comandante e ordenou que nao se matassem as mulheres. Um minuto depois e teria sido fatal. O que vamos ouvindo quando nos contam historias sobre os 25 anos de invasao, faz-nos tremer de medo. O que este povo viveu de humilhacoes, tragedias, massacres e terror, é dificil so de ouvir, mais dificil ainda de compreender e impossivel de imaginar. Mas esta presente em cada pedaço da vida de cada um, mais velho ou mais novo, e isso respira-se todos os dias. A tensao e o medo acompanham-nos, quase como se fossem pequenas tatuagens, em sitios discretos do corpo, sempre presentes, à vista de todos e de ninguem. E as tatuagens ficam para sempre.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

NO CAMINHO PARA CÁ

Hoje a minha tarde acontece sozinha e passa quase sem eu dar conta.
Saí de casa com uma folha cheia de recados numa mão. Na outra, a chave do jipe LD.
Fui buscar a radiografia do Tio António ao hospital (está com uma bronquite crónica), e vim à embaixada para marcar reunião com o Embaixador e com os professores da cooperação.
No caminho, uma menina chorava desesperada na berma da estrada. Como estava sozinha, parei o jipe e fui comprar-lhe uma garrafa de água. Com o meu português e com o tétum dela, percebi que o irmão tinha acabado de morrer. Aqui foi fácil parar o carro e o tempo. A minha folha cheia de recados ficou dentro do jipe e as chaves também.
Acho que a dor de perder alguém tão querido é tão forte cá como aí e, por mais que se tente, não se exprime nem em português, nem em tétum, nem em língua nenhuma. Dói e pronto.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

MY DANCING FEET







Estive a andar de baloiço, à noite, depois da chuva.
Ela veio, caiu e molhou. Eu quase voei.
Senti o vento, os meus pés dançaram no ar.
Fiquei perto da árvore grande, depois longe.
Depois perto, depois longe.
Perto e outra vez longe.
O baloiço é um recorte de ferro, que assenta num cilindro a meio.
O meu cabelo contou as minhas histórias à velha árvore.
Pensou que era livre, que estava solto e contou-lhe os meus segredos.
A velha árvore é grande, muito grande e mora mesmo ao meu lado.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

PRINSEZA











Adorava que pudessem ouvir o hit de Timor, 'Prinseza'!!
É uma musica linda que se ouve em todo o lado, nas festas, na rua, no jipe e aqui onde estou agora, no Centro.
Vou começar a dar aulas de português amanha, e a Ludoteca abriu na segunda-feira...
Já sei os nomes de muitas crianças: Amika, Maria, Kaka, Canino, Ito, Amadu, Nicola, Ato. E elas já sabem o meu, Joana.

Mil beijinhos*

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

YES. I LIKE PAKISTAN

Ontem fomos à praia, para lá do Cristo Rei. No caminho, passamos pela casa do presidente. Tem um muro à volta, que é branco, muito branco.
A casa não é de cimento, nem betão, nem tijolo. É de madeira.
Não fica ao pé do mar, nem na montanha. Fica entre.
O muro branco não a esconde, nem a revela por inteiro. Delimita.
Os seguranças não parecem bons, nem maus. Sorriem, de Kalashnikov nos braços.
E nós sorrimos também, muito...

Um deles pergunta-me se eu sou do Paquistão. Eu digo 'não, sou portuguesa'.
Ele pergunta novamente se eu sou do Paquistão, porque pareço do Paquistão.
Eu repito ' não, sou portuguesa'. Quando ele insiste de novo, volto a repetir pela terceira vez:
'Sou de Portugal'.
Ao que ele diz: 'PaKistan is really beautiful, don't u like Pakistan?'
Ao que respondo: 'Yes, Yes, I love Pakistan!!!'.

E pronto, ficou a frase do dia. Ele ficou feliz, e nós também!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

MARY E MEDO

' E hoje perdi um medo. Entrei no bairro ao lado. Joana, nao há mesmo diferencas nenhumas. Somos todos iguais. So tenho que me habituar a terra, ao pó que teima em pousar, ao calor que nao respeita a minha vontade, as melodias dos anos 80, as mangas a cair no telhado, a tudo aquilo que nao me pertence. Depois deixo de ter medo....quando me habituar.
Hoje o passo foi meu, porque entrei no bairro ao lado, o bairro da Mary.'

TIO ANTÓNIO


'Enquanto espero que a agua encha o balde, o Manuel traz o pequeno-almoço ao tio António. E o nosso jardineiro. Pequenino e esquecido da própria idade, vive num mundo próprio aliado do próprio mundo. Fala tetum, mas não comunica muito, pelo menos da forma convencional. Acho que se estivermos atentos, percebemos o que nos quer dizer. Sorri o tempo todo, acho que e feliz. Trabalha muito no nosso quintal e o jardim ‘e o território dele. Com três porções de relva plantadas, meia dúzia de baloiços e uns 40 m2 de empedrado, ‘e aqui que ele passa os dias, com uma concentração profissional invejável, como se para o dia de amanha, as ordens fossem sempre as mesmas. Os chinelos, quase gastos, arrastam-se a uma velocidade lenta, apenas a necessária, e decidida porque os dias são viciados. Que bom que e poder estar aqui, sentir o cheiro constante a banana frita, um cheiro húmido e quente, que não sai, que fala e grita ‘Timor’, sempre que se sente.
De um lado, a zona rica do bairro. As crianças estão zangadas com o Manuel, por ter castigado um menino que atirou uma pedra. As casas da família grande estão ainda em construção, cimento, madeira e telha cerâmica na cobertura. O tecto interior em madeira também. Os perfis das caixilharias são simples e finos. Adoro a proporção das janelas.
Do outro lado, a zona pobre e esperta. A família da Ato e da Mary, as meninas queridas, princesas da ludoteca.
Parece fácil estar aqui, e digo isto depois de um banho de balde (o segundo de hoje), que incluiu cabelo. Um espaço no chão delimita a banheira e o balde grande enche-se todos os dias.
Não sei bem explicar o que sinto. Sinto que me misturo com estas pessoas, aos bocadinhos. Começo a viver como elas, desprendida de hábitos, vícios e coisas. Continuo um bocadinho vaidosa, mas vaidosa a minha maneira. Um vício difícil de perder 'e deixar de sorrir. E ainda bem!'

terça-feira, 9 de setembro de 2008

ESTRANHA SERENIDADE


Acabei a mala neste preciso instante, mas há tanta coisa que não cabe.
E não cabe em mim, porque pesa muito.
Espero que as hospedeiras não reparem no peso extra, que não cabe em mim,
que transborda. Vou fazer um esforço para disfarçar.

Mas juro que me vingo no regresso...vou trazer muito mais do que tudo aquilo que já levo.
E não fico com tudo o que juntei e ganhei só para mim!
Este blog será a maior prova disso :).

Até breve!

*Joaninha

domingo, 7 de setembro de 2008

COMEÇO HOJE

E começo hoje.
Escolhi preto, porque ainda não cheguei.
Não sei qual vai ser a minha cor preferida.
Disseram-me que lá, o cheiro se entranha na pele, sem pedir licença.
Não sei qual vai ser o meu.
Estou disponível . . .para Amar.


**
And i start today.
I chose black, because i haven´t arrived yet.
I do not know which colour will be my favourite.
I've been told that there, the smell penetrates your skin, without permission.
I do not know which will be mine.
I'm in the mood...for Love.