quinta-feira, 20 de novembro de 2008

12 DE NOVEMBRO

Esta semana celebrou-se o 12 de Setembro, em Dili. Neste dia, em 1991 aconteceu o massacre de Sta Cruz. As tropas indonesias mataram mais de 200 jovens timorenses, no cemiterio de Santa Cruz, perto de Balide, o bairro onde vivemos. Estes pequenos grandes meninos sao considerados herois, porque foi gracas a esta tragica batalha, tao desiquilibrada e tristemente necessaria, que se conseguiram enviar para o mundo, filmes e fotografias de falsas harmonias e de uma paz que nao existia. Um trabalho heroico foi seguido de imediato. Alguem levou o material fotografico, em seguranca, para fora de Timor, sem que caisse nas maos dos indonesios. Muitos vao-nos contando quem o fez, como o fez. O facto é que chegou, e é graças a mais um heroi que Timor conseguiu a tao desejada independencia.
Agora, este dia é apenas recordado e celebrado em Dili, mas muitos fantasmas pairam ainda no ar.
A nossa querida Tia Amada esteve la nesse dia e fez parte do grupo de vozes que se ouvem por detras dos gritos e dos tiros, a rezar em portugues. Algumas senhoras e criancas rezavam dentro das duas capelas do cemiterio de Sta Cruz. E faziam-no com imensa voz e fé, sem dar espaço para intervalos bruscos ou investidas fatais. Por isso mesmo, e por se terem tornado sobreviventes do massacre, receberam das maos do povo timorense, uma medalha de coragem. A tia Amada mostrou-me a dela, radiante por se recordarem dela desta forma, e por sentir que agora carrega um pequeno tesouro. Acho que nunca chegarei a saber o que ela realmente sentiu naquele dia, quando as tropas finalmente chegaram ao interior da capela e se prepararam para disparar sobre todas as pessoas que la estavam dentro. Quando estavam prestes a faze-lo, entrou o comandante e ordenou que nao se matassem as mulheres. Um minuto depois e teria sido fatal. O que vamos ouvindo quando nos contam historias sobre os 25 anos de invasao, faz-nos tremer de medo. O que este povo viveu de humilhacoes, tragedias, massacres e terror, é dificil so de ouvir, mais dificil ainda de compreender e impossivel de imaginar. Mas esta presente em cada pedaço da vida de cada um, mais velho ou mais novo, e isso respira-se todos os dias. A tensao e o medo acompanham-nos, quase como se fossem pequenas tatuagens, em sitios discretos do corpo, sempre presentes, à vista de todos e de ninguem. E as tatuagens ficam para sempre.

2 comentários:

Stuck @ Zero disse...

É incrivel mesmo ouvir as historias das pessoas. Muitas vezes contadas ao jeito oriental, com um sorriso na cara, que nos parece tão enigmático, por ser aplicado numa situação que a nós só nos dá vontade de chorar...

Boa sorte com o arquivo das fotos!
Dava tudo para o ver também :)

(pode ser que ainda nos encontremos aí, durante o proximo ano...)

beijo,
sara

mumi disse...

É uma oportunidade única. Tira o máximo partido. Como é linda a paz. Só a valorizamos quandoa perdemos.

beij,