segunda-feira, 20 de outubro de 2008

NO CAMINHO PARA CÁ

Hoje a minha tarde acontece sozinha e passa quase sem eu dar conta.
Saí de casa com uma folha cheia de recados numa mão. Na outra, a chave do jipe LD.
Fui buscar a radiografia do Tio António ao hospital (está com uma bronquite crónica), e vim à embaixada para marcar reunião com o Embaixador e com os professores da cooperação.
No caminho, uma menina chorava desesperada na berma da estrada. Como estava sozinha, parei o jipe e fui comprar-lhe uma garrafa de água. Com o meu português e com o tétum dela, percebi que o irmão tinha acabado de morrer. Aqui foi fácil parar o carro e o tempo. A minha folha cheia de recados ficou dentro do jipe e as chaves também.
Acho que a dor de perder alguém tão querido é tão forte cá como aí e, por mais que se tente, não se exprime nem em português, nem em tétum, nem em língua nenhuma. Dói e pronto.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

MY DANCING FEET







Estive a andar de baloiço, à noite, depois da chuva.
Ela veio, caiu e molhou. Eu quase voei.
Senti o vento, os meus pés dançaram no ar.
Fiquei perto da árvore grande, depois longe.
Depois perto, depois longe.
Perto e outra vez longe.
O baloiço é um recorte de ferro, que assenta num cilindro a meio.
O meu cabelo contou as minhas histórias à velha árvore.
Pensou que era livre, que estava solto e contou-lhe os meus segredos.
A velha árvore é grande, muito grande e mora mesmo ao meu lado.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

PRINSEZA











Adorava que pudessem ouvir o hit de Timor, 'Prinseza'!!
É uma musica linda que se ouve em todo o lado, nas festas, na rua, no jipe e aqui onde estou agora, no Centro.
Vou começar a dar aulas de português amanha, e a Ludoteca abriu na segunda-feira...
Já sei os nomes de muitas crianças: Amika, Maria, Kaka, Canino, Ito, Amadu, Nicola, Ato. E elas já sabem o meu, Joana.

Mil beijinhos*

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

YES. I LIKE PAKISTAN

Ontem fomos à praia, para lá do Cristo Rei. No caminho, passamos pela casa do presidente. Tem um muro à volta, que é branco, muito branco.
A casa não é de cimento, nem betão, nem tijolo. É de madeira.
Não fica ao pé do mar, nem na montanha. Fica entre.
O muro branco não a esconde, nem a revela por inteiro. Delimita.
Os seguranças não parecem bons, nem maus. Sorriem, de Kalashnikov nos braços.
E nós sorrimos também, muito...

Um deles pergunta-me se eu sou do Paquistão. Eu digo 'não, sou portuguesa'.
Ele pergunta novamente se eu sou do Paquistão, porque pareço do Paquistão.
Eu repito ' não, sou portuguesa'. Quando ele insiste de novo, volto a repetir pela terceira vez:
'Sou de Portugal'.
Ao que ele diz: 'PaKistan is really beautiful, don't u like Pakistan?'
Ao que respondo: 'Yes, Yes, I love Pakistan!!!'.

E pronto, ficou a frase do dia. Ele ficou feliz, e nós também!